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Filhote de tartaruga com defeito genético incomum é achado por voluntários de ONG em RO

Segundo especialista, espécie nasceu “hipomelânica”, ou seja, com pouca melanina. Encontro ocorreu no último fim de semana no rio Guaporé durante trabalho de devolução de tartarugas à natureza.

Uma tartaruga que nasceu com menos melanina do que o normal foi encontrada por voluntários da Associação Comunitária Quilombola e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale) nas praias do rio Guaporé, em São Francisco do Guaporé (RO), município a cerca de 630 quilômetros de Porto Velho.

Segundo Saymon Albuquerque, biólogo e especialista em herpetologia (ciência que estuda répteis e anfíbios), o filhote nasceu “hipomelânico”. “É um animal com pouca melanina. Não é um albinismo completo”, explicou.

O encontro da espécie ocorreu no último fim de semana em meio ao trabalho de devolução de tartarugas à natureza. A Ecovale estima que mais de 2 milhões de tartarugas tenham sido salvas em 2019.

Segundo especialista, a espécie com esse tipo de defeito genético não costuma viver muito por causa dos predadores.  — Foto: Mara Carvalho/Rede Amazônica

Segundo especialista, a espécie com esse tipo de defeito genético não costuma viver muito por causa dos predadores. — Foto: Mara Carvalho/Rede Amazônica

De acordo com Saymon, animais que nascem com esse tipo de defeito genético não costumam viver muito, já que são achados com mais facilidade pelos predadores. “Tanto que é extremamente raro achar um adulto. Na natureza é bem difícil de achar. Não é comum”, complementou.

A tartaruga com pouca melanina deve permanecer sob responsabilidade da Ecovale por um período, até que se decida se é viável a soltura do animal no rio Guaporé.

Trabalho de proteção

A rápida subida de nível do rio Guaporé provocou a morte de mais de 5 milhões de filhotes de tartarugas e, para evitar que este número aumente, voluntários da Ecovale seguem trabalhando nas praias.

A ONG monitora a desova de tartarugas e faz a soltura dos filhotes no Guaporé há 20 anos. Além de trabalhar contra predadores naturais, o grupo, que faz o serviço voluntariamente, disponibiliza tempo para que os animais escapem da captura humana. Em 2018, salvou meio milhão de tartarugas.

Ecovale devolveu tartarugas às praias do rio Guaporé no último fim de semana.  — Foto: Mara Carvalho/Rede Amazônica

Ecovale devolveu tartarugas às praias do rio Guaporé no último fim de semana. — Foto: Mara Carvalho/Rede Amazônica

Um dos principais predadores das tartarugas na Amazônia é o urubú. Em entrevista à Rede Amazônica no ano passado, o presidente da Ecovale, Zeca Lula, contou que os urubus ficam na praia bicando os filhotes. Muitas vezes, as tartarugas chegam à água sangrando, o que atrai as piranhas do rio Guaporé.

Por causa dos predadores, as chances de sobrevivência entre as tartarugas são remotas. Conforme Zeca Lula, de cada mil, apenas uma consegue se salvar.

Tartarugas são soltas no rio Guaporé

Tartarugas são soltas no rio Guaporé

Graças a esse índice, a Ecovale cuida desses animais encontrados dentro de um berçário, onde ficam cerca de 22 dias com o objetivo de perder um tipo de cheiro que atrai predadores. “Assim, índice de sobrevivência sai de 0,001% para 5 ou até 15 %”, citou Zeca Lula.

O comércio ilegal de tartarugas também é um dos desafios que a Ecovale enfrenta na região. Em média, o número de tartarugas levadas por caçadores varia de 30 a 50 em duas horas de pescaria.

As tartarugas são comercializadas na região por pelo menos R$ 300. Em uma única noite, os caçadores conseguem até R$ 5 mil.

g1

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