Por telefone, mulher de 24 anos reclamou da dificuldade que a mãe encontrou para registrar boletim de ocorrência pelas ameaças e relembrou noite do crime: “Facão estava muito amolado”.
A jovem de 24 anos que teve a mão esquerda decepada ao tentar defender a mãe de ataque do ex descobriu neste domingo (10) que Genersia morreu. Ela recebeu a notícia assim que deixou a UTI e foi para o quarto na Santa Casa de Mogi Mirim (SP).
“A ficha ainda não caiu. Está difícil, estou acabada”, disse, por telefone.
Abalada com a notícia da morte e ainda se recuperando, já que além de perder a mão, ficou com o braço direito comprometido e com ferimentos na cabeça, ombro e coxa, ela lamentou não ter acompanhado o velório e enterro, falou das dificuldades para registrar boletim de ocorrência e relembrou a noite do crime, quando tentou impedir Juarez Ferreira de atacar a mãe.
“Minha mãe veio morar comigo quando se separou, e ele passou a fazer ameaças para ela. Minha mãe tentou registrar boletim de ocorrência três vezes, e eles (polícia) não resolvendo nada. Pediram para levar as ameaças em CD, e nada. Se tivessem feito o trabalho direito, minha mãe não teria morrido”, disse.
Jovem de Mogi Mirim que teve a mão decepada ao tentar defender mãe do ex descobriu que ela morreu neste domingo (10) — Foto: Reprodução/Facebook
Em nota, após o crime, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) informou que a vítima compareceu à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) na tarde de quarta-feira e foi orientada “de procedimentos legais que poderiam ser adotados”.
O ataque
Após receber a alta da UTI e ser transferida, a jovem contou, por telefone, como foi o momento do ataque, ocorrido na noite de quarta-feira (6).
“Ele já havia ameaçado minha mãe pelo telefone. Eu estava em casa quando ele chegou, tinha chegado do mercado e estava no quinta. Falei pra ela: ‘corre’. Ela pegou o menino [filho de Genersia com Juarez, de 1 ano] e foi pro fundo. Fui pra cima dele e saímos na mão”, relatou.
“O facão estava muito amolado. Foram seis golpes. Arrancou minha mão, estragou meu outro braço”.
Segundo a Santa Casa, devido a melhora no quadro da paciente, a jovem deixou a UTI e está agora na ala da clínica cirúrgica. “Os ferimentos estão cicatrizando bem, mas hoje ela recebeu a informação da morte da mãe e está tendo apoio de psicólogos”, disse, em nota, a prefeitura. Segundo a jovem, não há previsão de alta.
Genezia Souza foi morta a facadas em Mogi Mirim — Foto: Reprodução/EPTV
O caso
Genersia Maria de Souza, de 42 anos, morreu após ser atacada a golpes de facão pelo ex-companheiro, Juarez Ferreira, de 54 anos. A filha dela, de 24 anos, foi internada após ter a mão decepada ao tentar defendê-la. O suspeito foi preso na noite seguinte ao crime, na cidade de Jacutinga (MG).
O casal estava separado há um mês e tem um filho de um ano e meio. A jovem esfaqueada não é filha do suspeito. De acordo com vizinhos, a vítima já havia tentado registrar boletim de ocorrência contra o ex-marido outras vezes. Moradores da região tentaram incendiar a casa do homem, no Parque das Laranjeiras, mesmo bairro onde morava a mulher e a filha.
Juarez Ferreira é o principal suspeito de esfaquear e matar a ex-mulher em Mogi Mirim — Foto: Reprodução/EPTV
Durante o período de separação, Ferreira mandou áudios para a vítima pedindo que eles retomassem o relacionamento. Os arquivos foram obtidos pela EPTV, afiliada da TV Globo, com a família.
“Agora você já sabe, eu to aqui falando por tudo o que é sagrado. Vem urgente, antes que seja tarde demais. Que seja tarde demais. (…) Depois não vai dar tempo nem pra eu pensar, nem pra você pensar, nem pra ninguém pensar mais porque já acabou tudo”, disse o suspeito, em um dos áudios.
Em outro áudio, a vítima responde ao ex-marido e pede para ele parar com as insinuações. “Ninguém é obrigado a morar com ninguém. Acabou. Você vive sua vida e eu vivo a minha”, afirmou.
G1 Campinas