Esse mês de Janeiro estamos fazendo parte da Campanha Janeiro Branco, que tem o objetivo de alertar as pessoas quanto a importância da saúde mental. Diante dos crescentes casos de suicídio que aumentam a cada dia decorrente de casos de depressão, é de suma importância divulgar um alerta vermelho para que a saúde mental seja encarada sem preconceitos.
Por esse motivo, resolvemos fazer uma entrevista com o Dr.Wendell Jânio de Oliveira, que é médico no CAPS de Ji-Paraná.
Confira abaixo a entrevista informal que tivemos com ele:
1- Conexão Amazônia: Dr. Wendell, primeiramente queremos saber um pouco da sua história.
Dr. Wendell: Sou capixaba e aqui em Ji-Paraná estou há 34 anos. Quando aqui chegamos eu tinha 10 anos, meu irmão alguns meses, meu pai carpinteiro e minha mãe vendedora ambulante. Iniciei a faculdade de medicina após os 30 anos, mas antes disso trabalhei em muita coisa… vendas (picolé, algodão doce), entreguei jornal, capinando, trabalhei com meu pai em um garimpo; enfim, graças a Deus meus pais me deram uma boa instrução.
2- Conexão Amazônia: Podemos observar que sua história de vida até se tornar um profissional da saúde mental foi de muita resiliência, quando surgiu esse desejo de se tornar Psiquiatra?
Dr. Wendell: Em determinada época de minha vida passei por um quadro depressivo; isso fez com que ao cursar medicina eu me interessasse muito pelos assuntos relacionados à psicologia e psiquiatria. Mesmo assim, a princípio me imaginava atuando na área Geriátrica. Trabalhei no passado durante algum tempo no Centro de Convivência do Idoso e tenho comigo também essa afinidade. Mas tenho convicção de que nossas vidas são dirigidas por Deus quando assim permitimos; e foi isso que acredito que aconteceu… Fiquei um tempo em Minas Gerais e nessa época me foi ofertado a oportunidade de fazer pós-graduação em psiquiatria. Ao retornar para Ji-Paraná, trabalhei durante um tempo na emergência pediátrica do Hospital Municipal e posteriormente me foi oferecida a oportunidade de dar seguimento no CAPS, ao trabalho de dois dos grandes nomes da psiquiatria de Rondônia… Drs. Humberto e Telmo.
3- Conexão Amazônia: Ao entrar para o serviço público e conseqüentemente trabalhar no CAPS da nossa cidade, qual foi sua primeira impressão diante da imensa quantidade de pacientes que procuram atendimento ali naquela unidade?
Dr. Wendell: O CAPS Ji-Paraná atende não só a nossa cidade, hoje são atendidos outros 17 municípios circunvizinhos. Temos hoje um numero estimado de mais ou menos dez mil pacientes cadastrados. Sem duvida quando se começa a trabalhar na área de saúde mental passa-se a ver a situação com outros olhos. Infelizmente a maior parte da sociedade não tem idéia do quão grave é atual condição de saúde mental de nossa geração.
4- Conexão Amazônia: A maioria das pessoas desconhecem como é o funcionamento do CAPS, nós gostaríamos que você contasse aos nossos seguidores/leitores do site, como é esse atendimento e a demanda diária que há no CAPS?
Dr. Wendell: O CAPS Ji-Paraná hoje esta funcionando em um espaço físico muito bom. É um local amplo recém inaugurado nas proximidades do Hospital Municipal. Conta com três médicos atuantes na psiquiatria e vários outros profissionais de apoio. Lamentavelmente se torna dificultoso atender uma demanda tão grande vinda também de outros municípios; isso faz com que muitas vezes a espera chegue a mais de um mês. Nos casos de urgência, temos um setor de triagem que identifica essas situações e é dado prioridade com atendimento imediato.
5- Conexão Amazônia: Em Rondônia, nós não temos conhecimento se há um hospital psiquiátrico, para internamento de pacientes com graves distúrbios mentais; e sabemos que há casos de suma importância que esses pacientes tenham internamento, hoje como é feito esse atendimento para pacientes com necessidade de internação?
Dr. Wendell: Hoje a política pública de saúde mental, preza pelo convívio dos pacientes junto de seus familiares e se evita na medida do possível as internações. Essa alternativa só é utilizada quando esgotado todos os recursos do tratamento ambulatorial. Temos em Porto Velho uma ala psiquiátrica no Hospital de Base e quando necessário se encaminha para lá os pacientes.
6- Conexão Amazônia: Diante do preconceito sobre a saúde mental, e principalmente nos quadros de depressão, como é o perfil do paciente que busca atendimento? Ele deixa chegar a um ponto crítico da doença ou logo se encaminha para solucionar o problema?
Dr. Wendell: Quase sempre o paciente se apresenta com alguém que o leva, esse é o perfil da maioria. Nos últimos anos com as campanhas de setores da sociedade e governo esclarecendo sobre doenças mentais, notou-se uma relativa melhora em como as pessoas estão enxergando o problema. Mas ainda é forte o preconceito e os pacientes relatam receio de serem vistos nesses locais de atendimento, ou mesmo que se saiba que foram a um psicólogo ou psiquiatra. Dessa forma, os quadros nos chegam quase sempre de grau moderado a grave.
7- Conexão Amazônia: No CAPS hoje como é feito o atendimento? Conte para nós todo processo de recuperação da saúde mental aos pacientes…
Dr. Wendell: No que se refere a saúde mental e tratamento, gosto sempre de reforçar uma questão: O primeiro profissional a se buscar é o psicólogo e este quando se nota necessário encaminha ao psiquiatra. Isso porque em muitos casos não há a necessidade de emprego de medicamentos. Pois bem, partindo desse ponto, temos em algumas UBSs psicólogos que fazem esse primeiro atendimento e posteriormente encaminham o paciente ao psiquiatra quando notam necessário. O CAPS Ji-Paraná conta com oficina terapêutica onde é oferecido atendimento a aqueles que demonstram interesse. Ainda quando ao tratamento, é necessário reforçar que os estudos indicam que o tratamento medicamentoso sem a psicoterapia não tem a mesma eficácia.
8- Conexão Amazônia: Tivemos o prazer de acompanhar o seu trabalho humanitário em auxiliar as pessoas, dando palestras gratuitas, divulgando em suas redes sociais patologias decorrentes a problemas mentais, etc. Como é no âmbito pessoal, ser um médico psiquiatra que se compadece pelo paciente como você faz?
Dr. Wendell: Gosto da frase: “Escolha um trabalho que você ame e não terá de trabalhar um único dia de sua vida”. Aprendi no decorrer dos anos que uma maneira de nos sentirmos realizados e felizes é ajudando outras pessoas a se realizarem e serem felizes. Encontrar alguém sofrendo, contribuir para aliviar a dor e posteriormente ver essa pessoa em uma condição melhor, sem duvida não tem preço.
9- Conexão Amazônia: Temos conhecimento que você é evangélico, e tocando num assunto delicado para muitos, queremos que você diga o porquê muitas pessoas, usando o disfarçado preconceito atribuem a depressão a falta de Deus?
Dr. Wendell: Propagou-se essa ideia errônea de que uma pessoa com proximidade com Deus, não pode adoecer mentalmente. Se aceita problema cardíaco, pulmonar, ortopédico ou ate mesmo um câncer… mas se a doença é mental, é porque provavelmente esta faltando fé. Acredito que parte disso seja culpa de líderes religiosos pouco instruídos teologicamente, que acabam fomentando tal ideia. A própria bíblia coloca por terra tal entendimento no relato da história de Elias. Este de tão merecedor foi levado vivo aos céus. Mas antes disso é relatado episódio onde se nota claro quadro depressivo grave, o qual o mesmo se isolou no deserto e desejava a morte. Quadro muito parecido aos que encontramos hoje de pessoas depressivas com sintomas psicóticos.
10- Conexão Amazônia: Como podemos ajudar uma pessoa que está com depressão?
Dr. Wendell: Demonstrando interesse por sua dor sem julgamentos. Nunca fazendo comparações da vida dessa pessoa com a de outras, pois isso pode fazê-la sentir-se inferior. Tendo em vista a dificuldade em saber o que falar… mais ouça do que fale. Isso evita que você diga algo que piore a situação; sem contar que desabafar ira ajudá-la. O mais rápido possível leve-a a um profissional para uma consulta.
11- Conexão Amazônia: O tratamento da depressão, sabemos que é um longo caminho de cuidados terapêuticos, medicações, e apoio familiar e de amigos…Hoje os pacientes mostram que tem esse apoio familiar? E se há casos até de separações entre marido e mulher por causa da depressão…
Dr. Wendell: O apoio familiar é fundamental na recuperação da pessoa doente mental, seja depressiva ou outra patologia psiquiátrica. Infelizmente muitas vezes, por ser longo o período de tratamento, muitos são rejeitados ou mesmo abandonados. Os casos mais comuns são os divórcios, filhos que abandonam seus pais e pessoas de diferentes graus de parentesco que desistem do outro.
12- Conexão Amazônia: Os medicamentos psiquiátricos ( Rivotril, Fluoxetina, Cloridrato de Amitriptilina,etc) que são de uso controlado, são distribuídas pela rede pública?
Dr. Wendell: É de responsabilidade da rede básica de saúde a distribuição de uma grande variedade de medicamentos psiquiátricos antidepressivos, estabilizadores de humor, ansiolíticos/sedativos, antipsicóticos e etc.
13- Conexão Amazônia: Dessas medicações, o Rivotril (clonazepam) é o vilão da vez, nunca se viu tantos usuários e tantas especulações sobre esse remédio, o que você tem a dizer sobre ele, e qual sua importância no tratamento depressivo?
Dr. Wendell: O Rivotril, genérico Clonazepam, pertence a uma classe de medicamentos chamados benzodiazepínicos, o qual também fazem parte outros conhecidos como Diazepam, Alprazolam e etc. São medicamentos úteis quando usados de forma correta. Foram criados para uso de curto-médio prazo, mas infelizmente temos hoje uma população de numero expressivo viciadas nesses medicamentos. Pesquisas relacionam o uso prolongado desses medicamentos com demências… pra ser mais claro, perda de memória.
14- Conexão Amazônia: Queremos deixar para encerramento da nossa entrevista um espaço aberto, para que você dê um recado especial as pessoas que tem algum tipo de problema de saúde mental, e as famílias dessa pessoa…
Dr. Wendell: Não se sinta inferior pelo fato de estar momentaneamente com esse problema. Todas as classes sociais são afetadas; médicos, advogados, professores, policiais… esse que vos fala já passou por quadro depressivo. O importante é que há tratamento e o profissional que lhe atender irá lhe tratar com respeito. Quanto às famílias, reforço a importância do apoio familiar no tratamento e recuperação. E devemos lembrar sempre que o mundo dá voltas e amanhã pode ser você.
Conexão Amazônia: Ficamos muito agradecidos por sua atenção Dr. Wendel, e deixamos as portas abertas para que sempre que desejar utilize desse site para materias que possam ajudar as pessoas com algum tipo de patologia mental.
Queremos informar também a população de Ji-Paraná que o CAPS está localizado na Rua Porto Velho, número 103, Bairro Dom Bosco – Ji-Paraná-RO, telefone para contato: 69 3421-4415.
Para acompanhar as publicações do Dr. Wendell acesse a página dele no Facebook: Dr. Wendell
Clínica Particular: Rua São João, 1440 Bairro Casa Preta-Ji-Paraná – RO
Telefone: (69) 99995-9700 (whatsApp)
Abaixo fotos de algumas palestras do Dr. Wendell.
Entrevista com Dr. Wendell