Por favor, fique em casa e evite aglomerações. Não saia por aí matando as pessoas”, desabafou um profissional da saúde
Não foi por falta de aviso. Nem tão pouco por falta de previsões. Assim como em grande parte do país, os números apontavam para um desfecho fatal e melancólico para o sistema de saúde em Rondônia. A falta de ações efetivas sempre foi evidentes e era notório que não iria acabar bem.
Infelizmente as expectativas, mesmo as dos mais pessimistas, acabaram se tornando uma triste realidade e o Estado de Rondônia se destaca no cenário nacional como um dos piores em desempenho, no enfrentamento a Covid-19.
Em evidência, como o segundo Estado, que menos vacinou seus moradores, Rondônia aplicou a primeira dose em 59.852 pessoas e a segunda dose em 22.683 pessoas, totalizando a quantia de 82.535 doses aplicadas. Dados obtidos do Consórcio de Veículos da Imprensa, composto por G1, O Globo, Extra, Estadão, Folha e UOL, em 17/03/2021.
O número representa apenas 3,33% da população. Rondônia, aparece à frente apenas do Pará que vacinou apenas 3.11% da população, e vem ocupando destaque na imprensa nacional pela situação caótica em relação ao elevado número de contaminação e mortes nos últimos dias. O estado é considerado um dos epicentros da doença no país.
A quarta-feira (17/03) pode ser considerado um dos dias mais nebulosos para o Estado de Rondônia. Em meio ao caos no sistema de saúde, em razão da pandemia do Coronavírus, ou provocado pela ineficiência das políticas públicas no seu enfrentamento, chegam as informações que não temos mais leitos disponíveis.
Secretário de Estado da Saúde, Fernando Máximo divulgou vídeo na madrugada de quarta-feira (17), externando grande preocupação com o futuro.
“Madrugada do dia 17 de março de 2021, trabalhando aqui extremamente assustado. 1.960 novos casos de Covid-19 em Rondônia em 24 horas. Batemos todos os recordes. Os números só crescem, só aumentam. As pessoas estão se contaminando muito”, declarou o secretário.
Da capital Porto Velho e de Ji-Paraná, vieram as informações da ocupação de 100% dos leitos de UTI para a Covid-19 e duas das principais unidades de saúde, da rede privada, emitiram notas informando a suspensão dos atendimentos.
A situação se estende à rede pública aonde as principais unidades também informam a ocupação total ou a eminente falta de leitos. Nos últimos dias várias pessoas morrerão nas filas de espera. Não obtivemos números oficiais sobre esses dados.
Infelizmente, a expectativa é pelo agravamento da situação. O crescente número de contaminados aliada ao comunicado de muitas cidades, que temem a possível falta de oxigênio, trouxeram um temor a mais para a população.
A empresa responsável pelo abastecimento de oxigênio, em quase 80% dos municípios no Estado, anunciou que seu estoque deve se encerrar nos próximos dias e que não terá mais condição de atender a demanda. De acordo com as informações faltam os insumos necessários para a produção.
Em meio ao caos, em forma de alento, governo do Estado informou que o sistema estadual tem oxigênio suficiente para manter as suas unidades, porém, ressaltou que não pode socorrer os municípios, pois utilizar produto diferente dos utilizados pelas redes municipais.
O Ministério Público Federal em Rondônia encaminhou alerta ao governador do Estado e ao Ministério da Saúde sobre a situação e pediu providências imediatas.
Prefeitos, secretários municipais, secretaria de estado da saúde, governo e parlamentares estão empenhados em achar uma alternativa que impeça o desabastecimento.
O Ministério da Saúde, informou que irá oferecer um plano de ação para evitar a falta dos insumos, porém não deu maiores detalhes. A medida foi anunciada por Eduardo Pazuelo, porém deixa dúvidas quanto aos seus efeitos, uma vez que está ocorrendo uma mudança no comando do Ministério. O novo ministro, Marcelo Queiroga, apesar de dizer que pretende seguir os planos em andamento, não se pronunciou sobre a possibilidade da falta de oxigênio em Rondônia.
Pacientes informam que estão sendo orientados e fazerem o tratamento em casa e evitarem procurar as unidades de saúde, salvo em casos de extrema gravidade.
Um morador de Ariquemes informou, à nossa reportagem, que está sentindo os sintomas a mais de dez dias e que ao procurar o CAR (Centro de Afecções Respiratórias) foi orientado a fazer o tratamento em casa, pois não existe vagas nas unidades de saúde.
Essa situação também ocorre em vários outros municípios. Em Machadinho D’Oeste, aonde o número de morte vem crescendo de forma assustadora, os esforços para manter os atendimentos estão sendo, praticamente inúteis. Profissionais da linha de frente utilizam as redes sociais e fazem apelos aos moradores para que respeitem as medidas de isolamento social, evitem aglomerações e adotem medidas de prevenção.
“Por favor, fique em casa e evite aglomerações. Não saia por aí matando as pessoas”, desabafou um profissional da saúde.
Por Dario Bagalo – Jornalista – Foto ilustração