A gravidez na adolescência não é apenas uma questão de saúde pública, como também de educacional, econômica e social, impactando diretamente nestes setores e levando meninas e suas famílias a um ciclo vicioso de pobreza e doença. Num país com tantas peculiaridades, grandes distâncias e desigualdades que colocam uma parcela da população em situação tão desfavorável como o Brasil, são necessárias políticas públicas específicas no que diz respeito à gravidez não planejada de adolescentes e jovens.
O casamento infantil de meninas ainda é a maior causa de gravidez precoce no mundo. O Brasil ocupa a 4ª posição ranking mundial com 26% das mulheres brasileiras casando-se ou indo viver com seus parceiros antes de completar 18 anos, segundo o estudo Perfil do Casamento Infantil e Uniões Precoces, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apesar da lei que proíbe o casamento para menores de 16 anos em qualquer circunstância.
Com a pandemia da Covid-19, a interrupção de serviços e fechamento das escolas colocou milhões de vidas em risco, uma vez que o confinamento em domicílios obriga as jovens a permanecerem em seus lares, lugares muitas vezes não seguros, na medida que se observa que a violência doméstica e sexual é mais frequentemente praticada por pessoas conhecidas e/ou familiares.
Como medida preventiva para essa situação, explica a presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia de Rondônia (Assogiro) Drª Ida Peréa, será necessário aumentar esforços para manter as meninas na escola por mais tempo e ensinar a elas habilidades para a vida, educação regular e sexual, além de promover mudanças sociais para que elas possam fazer escolhas conscientes para o futuro.
A falta de informação de qualidade também é constante na fala das adolescentes, se fazendo necessário criar ações de educação e conscientização para que elas possam fazer escolhas conscientes e, ainda para que essas meninas possam identificar e denunciar, desde cedo, comportamentos inadequados, como o abuso infantil, retardar a primeira relação sexual e inclusive aumentar a adesão aos métodos contraceptivos e de prevenção de infecções de transmissão sexual.
“São diversas estratégias possíveis de se aplicar no âmbito de políticas públicas para meninas e adolescentes, como estabelecer parcerias entre o Programa de Saúde da Família (PSF) e as escolas, família e a comunidade, promover a formação de capital humano a partir das meninas e o empoderamento delas, para que tomem decisões de vida e defendam os seus direitos, além de orientação para contracepção nas consultas pré-natais, pós-parto ou de visita domiciliar”, relaciona Drª Ida, que completa que a prevenção a gravidez na adolescência é uma responsabilidade de toda a sociedade.
Ampliar a disponibilidade de métodos contraceptivos de longa ação é um ponto que deve ser visto com atenção pelo Brasil, que disponibiliza apenas o DIU de cobre no SUS. A estratégia de disponibilização como o DIU de progesterona e do implante subdérmico (implanon) pelo Chile e Uruguai fez com que os índices de gravidez na adolescência diminuíssem consideravelmente nesses países, se mostrando um bom exemplo de eficácia a ser seguido.
Abaixo, confira 10 pontos fundamentais para reduzir as taxas de gravidez na adolescência Elencados pela Sociedade Brasileira de Ginecologia da Infância e da Adolescência – SOGIA :
- Sensibilizar e capacitar profissionais da saúde para o atendimento de adolescentes e promover reciclagem periódica destes profissionais;
- Garantir o fornecimento de métodos contraceptivos gratuitos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), incluindo os LARCs.
- Promover rodas de conversa com Grupos de Adolescentes e formar entre eles, agentes multiplicadores;
- Estimular o envolvimento dos adolescentes na criação de aplicativos ou vídeos educativos com divulgação monitorada.
- Promover interface com as Secretarias de Educação, Saúde, Cultura e Esporte e poder público, executivo e legislativo, buscando ações para medidas legislativas;
- Estabelecer parceria com Instituições de Ensino Superior nas áreas de saúde, educação, esporte, cultura e entidades cientificas;
- Incentivar pesquisas na rede pública com financiamento e premiações;
- Estabelecer linha de cuidado nas UBS e nas unidades de Programa da Família;
- Criar espaços de atendimento em locais vulneráveis;
- Estimular a troca de experiências exitosas interestaduais nacionais e internacionais.
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Fonte ASSOGIRO – Foto Divulgação