Esqueça a velha pergunta sobre o que vem primeiro, o ovo ou a galinha. A questão mais importante é: os ovos são bons ou ruins para sua saúde? Infelizmente, a ciência também não consegue se decidir por uma resposta definitiva para isso.
No ano passado, uma grande análise de Harvard com 215 mil pessoas descobriu que comer um ovo por dia não estava associado a um risco maior de doenças cardiovasculares.
Agora, um novo estudo com mais de 500 mil pessoas descobriu que comer até mesmo uma porção de um ovo inteiro, com sua gema amarela carregada de colesterol, aumenta o risco de morte por todas as causas, incluindo doenças cardiovasculares e câncer.
Na verdade, o risco geral de morte aumentou 7% para cada um ovo e meio ingerido por dia, de acordo com o estudo publicado na terça-feira (9), pela PLOS Medicine. Mas os especialistas ainda estão céticos.
“Apesar de muitos anos de pesquisa, esta questão sobre ovos e saúde não foi respondida ainda porque vários estudos observacionais das últimas décadas mostram resultados conflitantes, alguns sugerem que a ingestão moderada de ovos é boa, enquanto outros sugerem que pode ser ruim”, disse Riyaz Patel, cardiologista consultor da University College London.
“Esse estudo, embora bem conduzido, só adiciona mais ruído à discussão, infelizmente”, diz Patel.
Os resultados do estudo são problemáticos porque eles perguntaram às pessoas apenas uma vez sobre o consumo de ovos. Depois, acompanharam por muitos anos esses mesmos indivíduos sem verificar se a dieta havia mudado, disse Walter Willett, professor de epidemiologia e nutrição da Harvard School de Saúde Pública.
“Eles estão apenas obtendo um retrato desse período”, disse Willett, que também é professor de medicina na Harvard Medical School.
“As conclusões desse estudo são exageradas”, diz Ada Garcia, professora sênior de nutrição em saúde pública da Universidade de Glasgow, na Escócia.
“Culpar os ovos por si só pelo aumento do risco de doenças cardiovasculares é uma abordagem simplista e reducionista do conceito de dieta e prevenção de doenças”, diz a especialista.
O que os ovos substituem?
A indústria avícola há muito tempo elogia o “incredible edible egg” (o incrível ovo comestível). Por apenas 75 calorias, dizem os avicultores, um ovo fornece 7 gramas de proteína de alta qualidade, 5 gramas de gordura e 1,6 gramas de gordura saturada, além de ferro, vitaminas, minerais e nutrientes como luteína e zeaxantina, que combatem doenças.
Os ovos são baratos, o que os torna uma fonte de alimentação nutricional acessível a famílias com orçamentos limitados. Muitas pessoas com dietas populares com baixo teor de carboidratos também dependem muito dos ovos em seus planos de alimentação.
O problema, é claro, é o nível de colesterol, que pode chegar a 185 miligramas na gema.
O colesterol não é um bicho-papão. Produzido pelo fígado, ele está em todas as células do corpo e é usado para produzir hormônios, vitamina D, compostos digestivos e muito mais. Às vezes, o corpo de uma pessoa pode produzi-lo em excesso, levando ao acúmulo de placas gordurosas nos vasos sanguíneos e, posteriormente, a doenças cardiovasculares.
O colesterol tem um papel na nossa dieta, mas é mais complicado do que pensávamos, disse Willett, que passou mais de 40 anos estudando os efeitos da dieta na ocorrência de doenças importantes.
As diretrizes nutricionais costumavam recomendar um limite superior de 300 miligramas de colesterol por dia. Hoje, sugerem comer o mínimo possível, mantendo as gorduras saturadas em menos de 10% das calorias diárias.
A chave, disse Willett, é olhar para os prós e contras nutricionais gerais do alimento, bem como o que o ele está substituindo na dieta.
Veja o peixe, por exemplo. Os peixes contêm colesterol, mas também fornecem ácidos graxos ômega-3, essenciais para uma saúde ideal.
Além disso, as gorduras saturadas da manteiga, laticínios inteiros e cortes gordurosos da carne têm um impacto muito mais profundo no aumento dos níveis de LDL (lipoproteínas de baixa densidade) no sangue do que as fontes de colesterol, como ovos.
“Se alguém está pensando em substituir os ovos por donuts, outros amidos refinados e açúcar ou gorduras saturadas, prefiro que coma ovos”, disse Willett.
“Mas para alguém que realmente deseja estar em ótima forma, colocar ênfase em fontes de proteína de origem vegetal, como aveia e castanhas, seria o melhor caminho a seguir.”
No entanto, certas pessoas podem querer observar melhor os efeitos da ingestão de ovos. “Alguém que está tendo dificuldade em usar medicamentos para seus níveis de colesterol no sangue provavelmente deveria manter o consumo de ovos baixo”, disse Willett.
“Os ovos não precisam ser totalmente eliminados, mas acho que a velha recomendação de não mais do que dois ovos por semana para a maioria das pessoas ainda é uma boa recomendação.”
Pessoas com diabetes tipo 2 também devem ser cautelosas. O estudo Harvard 2020 descobriu que uma maior ingestão de ovos por pessoas com diabetes tipo 2 estava associada a um aumento do risco cardiovascular, uma ligação que foi duplicada em estudos anteriores.
E quanto à clara do ovo?
As gemas podem ser substituídas com segurança por claras de ovo? O novo estudo PLOS descobriu que a substituição de um ovo e meio por uma quantidade equivalente de clara de ovo reduziu a mortalidade por doenças cardiovasculares em 3%.
“Na minha opinião, a recomendação feita pelos autores de substituir ovos inteiros por claras ou substitutos de ovo não está amparada por todas as evidências disponíveis”, disse Patel da UCL.
“A maioria dos estudos não examinou ovos sem gema”, disse Willett, “principalmente porque o consumo de clara de ovo é muito baixo na população em geral. O menor risco está em substituir os ovos por nozes e fontes vegetais de proteína.”
Patel acrescentou: “Não acho que esse estudo mude o conselho geral de que, para a maioria das pessoas, os ovos podem ser consumidos com moderação como parte de uma dieta balanceada, a menos que tenham sido aconselhados a não fazê-lo por um motivo médico ou alimentar específico.”
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês)
Por Sandee LaMotte – Fonte CNN Brasil – Foto Reprodução/ Pixabay