O Ministério da Saúde anunciou, no sábado (30), que o Brasil deve receber de 10 a 14 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford contra a covid-19 a partir de meados de fevereiro, por meio do consórcio internacional Covax Facility.
Segundo a pasta, a estimativa para o envio dos imunizantes foi recebida por meio de uma carta da aliança internacional ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS). A Covax Facility é definida como uma ação que tem o objetivo de difundir a distribuição justa e igualitária das vacinas contra a covid-19. A iniciativa define que a imunização mundial contra o novo coronavírus é uma corrida na qual “ninguém ganha até que todos ganhem”.
O consórcio global de compartilhamento de vacinas reúne cerca de 190 países. Desses, 92 são considerados de baixa ou média renda (como Afeganistão, Etiópia, Haiti).
Por meio da iniciativa, os recursos destinados pelos países mais ricos, que têm maior poder nas negociações com as empresas farmacêuticas, apoiam aqueles em maior situação de vulnerabilidade.
No consórcio, a expectativa é de que o Brasil receba 42,5 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 até o fim de 2021. De acordo com o Ministério da Saúde, essa quantidade é suficiente para imunizar 10% da população brasileira, “com distribuição de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19”.
O Brasil consta na aliança como uma economia com “autofinanciamento potencial”, que reúne cerca de 80 países. A expectativa é de que o país pague cerca de R$ 2,5 bilhões, em diferentes parcelas, para ter acesso às vacinas e auxiliar outros países por meio da Covax Facility.
A aliança Covax
Diante da corrida mundial pela vacinação, especialistas ressaltam a importância da Covax Facility, por ser uma iniciativa que tem o objetivo de distribuir de modo igualitário o imunizante.
Vice-diretor da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), braço da OMS para as Américas, Jarbas Barbosa informou, no sábado (30/01), que a Covax iniciaria as entregas das vacinas aos países que fazem parte da iniciativa em meados de fevereiro.
“Para os países das Américas que participam do mecanismo, todos com exceção dos EUA, serão entregues entre 35,3 milhões a 52,9 milhões de doses. Para o Brasil, nossa estimativa é de entregar entre 10,6 milhões e 14,2 milhões de doses nessa primeira fase. A partir daí, serão entregas mensais até alcançar o percentual da população que cada país solicitou”, escreveu em uma publicação em seu perfil no Facebook.
De acordo com a OMS, atualmente há um acordo de compra de 150 milhões de doses da vacina de Oxford e da AstraZeneca e 40 milhões de doses da vacina produzida pela Pfizer e BioNTech.
Posteriormente, outros imunizantes também deverão fazer parte da aliança — a expectativa é distribuir, ao menos, 2 bilhões de doses até o fim deste ano, sendo mais da metade delas aos países mais pobres por terem dificuldades para adquirir o imunizante diretamente com os laboratórios.
As doses que o Brasil receberá por meio da aliança serão da vacina da Oxford-AstraZeneca. O imunizante teve registro emergencial das 2 milhões de doses que já chegaram ao Brasil aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na última sexta-feira (29/01), foi feito pedido de registro definitivo da vacina à agência, que informou que irá analisá-lo.
Segundo o site de notícias G1, a agência informou que a necessidade de um novo pedido de registro das vacinas enviadas pela Covax depende do local de produção e da forma de apresentação das doses.
Se essas enviadas pela Covax ao Brasil vierem do mesmo laboratório da Índia, que produziu as aprovadas emergencialmente, a agência poderá “ampliar” a autorização para uso, como ocorreu em relação a um segundo lote da Coronavac. No entanto, se forem produzidas em outro laboratório, deverão passar por um novo pedido de registro emergencial.
Acordos bilaterais
Além da Covax, o Ministério da Saúde ressalta que fez acordos com empresas para obter doses de vacinas contra o novo coronavírus. Em nota, pontua que firmou parceria diretamente com a AstraZeneca e a Universidade de Oxford, por meio da Fundação Oswaldo Cruz/BioManguinhos, e com a empresa Sinovac e o Instituto Butantan para distribuição da CoronaVac.
Até este domingo (31/01), o Brasil já havia vacinado 2 milhões de pessoas. O país possui, até o momento, 12,8 milhões de doses de vacinas para enfrentar a pandemia — 10 milhões da CoronaVac e 2 milhões da Oxford-AstraZeneca.
Mas especialistas têm alertado que dificuldades relacionadas a insumos para a produção no país, em meio ao cenário de corrida mundial pela imunização, podem interromper a vacinação no Brasil por certo período.
Especialistas têm criticado o ritmo da vacinação no país.
Para eles, os números atuais de imunização no Brasil estão abaixo das expectativas e da capacidade do sistema de saúde.
“O ritmo de vacinação no país está simplesmente péssimo. Nós já deveríamos ter utilizado pelo menos todo esse primeiro lote de 6 milhões de doses da CoronaVac, do Instituto Butantan e da Sinovac”, disse o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à BBC News Brasil.
Em resposta às críticas, o Ministério da Saúde alega que o plano de vacinação é dinâmico e pode sofrer ajustes necessários nas fases de distribuição das vacinas, “considerando a indicação de uso apresentada pelo fabricante, o quantitativo de doses entregues e os públicos prioritários já definidos”.
A imunização em larga escala permite proteger toda a comunidade, mesmo aquelas pessoas que, por um motivo ou outro, não podem tomar as doses. Esse fenômeno é conhecido popularmente como imunidade de rebanho, embora os cientistas prefiram o termo imunidade coletiva.
Ainda não se sabe ao certo qual é a porcentagem de vacinação necessária para atingir a imunidade de rebanho contra a covid-19.
Atualmente, os cientistas calculam que essa taxa deve ficar entre 70% e 90%.
Se considerarmos que a campanha começou no Brasil há 12 dias e, de acordo com Our World Data (da Universidade de Oxford), 1,45 milhão de brasileiros receberam a primeira dose até quinta-feira (28/1), isso dá uma média de 120 mil pessoas vacinadas por dia.
Se precisarmos imunizar até 90% da população para eventualmente atingir a imunidade coletiva, no Brasil esse total corresponde a 188,5 milhões de pessoas vacinadas.
Mas, se continuarmos no ritmo atual de 94 mil doses por dia, demoraremos 1.570 dias (ou pouco mais de quatro anos) para atingir o limiar de 90%.
A epidemiologista Carla Domingues, que foi coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde por quase dez anos (2011-2019), afirma que o Brasil tem total capacidade de acelerar seu plano e vacinar um número bem maior de pessoas contra a covid-19.
“Nas campanhas de vacinação contra a gripe, que acontecem todos os anos, nós conseguimos imunizar 80 milhões de brasileiros em apenas 90 dias”, compara.
Domingues acrescenta que o país tem cerca de 30 mil profissionais de saúde contratados para fazer a vacinação. “Cada um deles consegue atender de 20 a 30 pessoas por dia. Portanto, não é exagero dizer que podemos imunizar 900 mil ou até 1 milhão de indivíduos no país diariamente.”
Via BBC NEWS