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Do vison ao seu gato: o que se sabe sobre a relação entre Covid-19 e animais

O abate planejado de quase 100 mil visons após um surto de coronavírus em uma fazenda de peles espanhola renovou as perguntas em torno da Covid-19 e sua transmissão para animais.

Embora os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) dos EUA afirmem que não há evidência que os animais desempenhem um papel significativo na disseminação do vírus, relatos de animais infectados foram registrados.

Além disso, como se acredita que o coronavírus tenha infectado animais selvagens antes de chegar aos seres humanos, essa é uma área em que os cientistas precisam aprender mais para controlar a propagação não só da Covid-19, mas também de doenças futuras.

Os animais podem pegar o coronavírus?

O coronavírus foi identificado em pelo menos 25 propriedades rurais criadoras de vison na Holanda, de acordo com o governo do país, que afirmou na sexta-feira (17) que havia abatido animais em 24 propriedades infectadas.

A Covid-19 foi encontrada em três dos 11 gatos em uma fazenda de peles criadora de visons, e o governo disse que os gatos podem desempenhar um papel na disseminação do vírus entre as propriedades rurais.

Em uma fazenda em Teruel, na Espanha, 92.700 visons devem ser abatidos após 78 dos 90 animais testados terem o coronavírus, o que representa 87% da amostra.

Também houve relatos de gatos e cães de estimação infectados com o coronavírus em vários locais do mundo, incluindo Nova York, Hong Kong e Holanda. Oito grandes felinos tiveram testes positivos no Bronx Zoo, em Nova York.

Posso pegar o coronavírus do meu animal de estimação?

O CDC diz que o risco de os animais espalharem a Covid-19 para as pessoas é “considerado baixo”. A agência não recomenda testes de rotina de animais de estimação.

Um vídeo do YouTube divulgado há algumas semanas pela FDA, a agência responsável por alimentos e medicamentos nos EUA afirma que “não parece que os animais podem transmitir o vírus”, embora as pessoas possam transmitir para eles.

No entanto, as autoridades holandesas disseram que era “plausível” que um vison tenha infectado um ser humano com a Covid-19 e, por isso, instituíram testes obrigatórios de animais em todas as fazendas de vison na Holanda.

Como os animais podem espalhar outras doenças para os seres humanos, é sempre melhor lavar as mãos depois de tocar em um animal de estimação e antes de tocar em seu rosto.

O coronavírus se originou em animais selvagens?

Os pesquisadores acreditam que o coronavírus passou algum tempo infectando morcegos e pangolins antes de saltar para os seres humanos. Eles suspeitam que pessoas tenham entrado em contato com um animal doente com o coronavírus em um mercado de animais vivos na China.

Mas os cientistas dizem que uma terceira espécie animal pode ter sido a hospedeira do vírus antes que ele se espalhasse para as pessoas.

O que está claro é que o coronavírus trocou genes repetidamente com cepas semelhantes, infectando morcegos, pangolins e uma possível terceira espécie, informou uma equipe da Universidade Duke, do Laboratório Nacional Los Alamos e de outros centros de pesquisa na edição de maio da revista Science Advances.

Outro aspecto também conhecido é que as pessoas precisam reduzir o contato com animais selvagens que podem transmitir novas infecções.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselha quem visita mercados de animais ou produtos vivos a praticar medidas de higiene, incluindo lavar as mãos e evitar tocar no rosto. Os trabalhadores desses mercados e de matadouros e frigoríficos devem usar roupas de proteção e desinfetar regularmente as superfícies.

A OMS não recomenda medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 específicas para o transporte internacional de animais ou produtos de origem animal.

De acordo com a FDA, vale a pena evitar parques para cães e outros locais públicos lotados levando os bichinhos. A regra de distanciamento de um metro e meio se aplica a animais com coleira, assim como funciona para os seres humanos.

A FDA também sugere evitar o contato com os animais se você estiver doente. Se possível, peça a outra pessoa que cuide do seu pet até que você esteja bem novamente, ou use uma máscara quando estiver perto dele.

Se seu animal de estimação ficar doente após o contato com uma pessoa com Covid-19, ligue para o veterinário e descubra as consultas de telemedicina ou outras maneiras de avaliar o pet.

Alguns donos do animais na China equiparam seus cães com máscaras faciais minúsculas, mas a Sociedade para a Prevenção da Crueldade aos Animais de Hong Kong disse que não havia nenhum benefício nisso – e que provavelmente as máscaras deviam causar um grande sofrimento para os bichos.

Grupos de defesa dos animais alertaram que um risco maior do que a disseminação do vírus de animais para humanos é a “disseminação do medo”, levando os donos a abandonar seus animais de estimação.

Isso deve mudar o jeito de lidar com os animais?

As fazendas de peles, como aquelas onde ocorreram os surtos em visons, são proibidas em muitos países devido a preocupações com o bem-estar e a ética dos animais.

O governo holandês está trabalhando em um plano em que fazendas de vison podem fechar voluntariamente antes da data planejada de eliminação gradual, que é 2024. A Fur Free Alliance, uma coalizão internacional de grupos de defesa dos animais, pediu o fechamento global desse tipo de criação.

Uma pesquisa publicada na revista Science Advances alertou que os humanos estão se preparando para serem infectados com novos vírus tanto ao operar “mercados úmidos” (os mercados de animais vivos), onde muitas espécies diferentes são engaioladas e vendidas, como ao penetrar mais profundamente nas florestas onde os animais vivem.

O estudo afirma que “reduzir ou eliminar o contato direto humano com animais selvagens é fundamental para evitar novas zoonoses por coronavírus [transmissão de animais para humanos] no futuro”.

Jane Goodall, especialista pioneira em chimpanzés, disse esperar que o coronavírus nos faça refletir sobre nosso relacionamento com o mundo natural.

Para Goodall, os seres humanos “desrespeitaram” a natureza e os animais “e, à medida que destruímos as florestas e os habitats, espécies que normalmente não interagiam foram agrupadas” e forçadas a entrar em contato mais próximo com os seres humanos.

A renomada pesquisadora observou que o HIV se originou com a caça de chimpanzés, que o MERS (a síndrome respiratória do Oriente Médio, causada por outro coronavírus) vem de camelos e que as práticas agrícolas modernas criam condições ideais para que um vírus salte de um animal para um humano. A crise climática também pode trazer mais problemas e mais doenças.

“Então, a gente espera conseguir sair da pandemia e poder trabalhar juntos, com uma economia futura mais verde e uma maneira melhor de viver em harmonia com o mundo natural”, disse Goodall, “em prol do meio ambiente, dos animais, de nossa própria saúde e a das gerações futuras”.

Maggie Fox, da CNN, Laura Pérez Maestro, Mick Kerver, Rob Picheta e Jen Christensen contribuíram nesta reportagem.

(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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