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Especialistas explicam a subnotificação do coronavírus em Rondônia e como combatê-la

Foram entrevistadas pesquisadoras em saúde pública, virologia molecular, geografia da saúde e desenvolvimento regional. A falta de testagem é a principal causa da subnotificação.

A primeira morte por Covid-19 em Rondônia, oficialmente confirmada, foi de uma idosa de 66 anos que não estava nas listas de casos suspeitos ou confirmados da doença. Desde então, esse óbito acendeu um alerta nos especialistas sobre a subnotificação dos casos do novo coronavírus no estado, pois indicou que os números apresentados pelo governo são inferiores à realidade.

Além da subnotificação das mortes, já foi mundialmente levantada a hipótese de que muitas pessoas podem desenvolver as formas leve e assintomática da doença e se curem em casa, sem nem saber que tiveram a infecção pelo vírus. Esses cenários maquiam ainda mais os dados.

Para entender como a subnotificação ocorre em Rondônia e quais alternativas a ciência oferece aos governos para combater a discrepância dos dados, pesquisadoras em saúde pública, virologia molecular, geografia da saúde e desenvolvimento regional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal de Rondônia (Unir) e Instituto Federal de Rondônia (Ifro).

Veja o ponto a ponto das entrevistas:

O que é a subnotificação e por que ela é perigosa?

A subnotificação ocorre quando os números de casos apresentados são inferiores a realidade. O último boletim oficial de saúde, publicado no dia 2 de abril, aponta que há 10 casos confirmados do novo coronavírus em Rondônia. O número é cinco vezes inferior a estimativa feita pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia (Cremero), que estimou que o estado teria 50 casos confirmados da doença até 1º de abril (veja pesquisa completa).

A diferença entre os registros e a realidade tem uma causa principal: a falta de testagem.

Para a pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz-RO e chefe do laboratório de Virologia Molecular, Deusilene Souza Vieira Dall’Acqua, o diagnóstico é fundamental para evitar a propagação do vírus.

“A partir do momento em que há confirmação podemos avaliar as possibilidades de gravidade da doença, principalmente correlacionando os fatores de riscos, assim como os contactantes dessas pessoas nos últimos 14 dias. Porém para toda essa avaliação é seguido um fluxograma definido pelo Ministério da Saúde que define os casos suspeitos para coronavírus. Devemos lembrar que trata-se de uma nova variação do coronavírus, várias mudanças de protocolos, manejos e outros irão ocorrer ao longo desse processo. Vale salientar que a demanda de kits para diagnóstico da Covid-19 é grande em todo o país e não somente no estado de Rondônia, devido ao aumento dos números de casos”, explica Deusilene Dall’Acqua.

As pesquisadoras doutoras Xênia de Castro Barbosa e Graziela Tosini Tejas, que estudam a subnotificação da Covid-19 e as diferenças socioespaciais em Rondônia, seguem na mesma linha de raciocínio.

Elas acrescentam que não se resolve o problema se não se sabe quais as suas causas.

“A princípio, e com base na revisão de literatura e na análise documental entendemos ser necessário aumentar a disponibilização de kits para que as pessoas possam fazer o exame para saber se já possuem ou não o vírus Sars-CoV-2, que causa a doença chamada Covid-19. A carência de kits para os testes pode ser apontado como um dos fatores que têm levado à se notificar um número baixo de casos quando se estima haver muitos mais”, sinalizam Xênia e Graziela.

Sobre a demanda de kits em Rondônia, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesau) informou que tem se esforçado para testar o maior número possível de casos suspeitos, que se enquadram nos critérios do Ministério da Saúde, entretanto, a escassez em nível mundial de kits para realização dos exames dificulta a ação.

“O principal motivo do crescimento do número de notificações no cenário atual é que a transmissão se dá mesmo antes do aparecimento dos sintomas. Os dados na plataforma alimentada pelas Secretarias de Saúde e enviados ao MS dependem das notificações nos hospitais e unidades de saúde que recebem esses pacientes”, diz a secretaria em nota.

O primeiro lote com 4,8 mil testes rápidos para o coronavírus Sars-CoV-2 chegou na noite de quinta-feira (2). Outros 9 mil testes estão previstos para chegar na próxima semana, e o governo estima que mais testes cheguem ao longo das outras semanas.

O que fazer para diminuir a subnotificação?

As especialistas consultadas pelo G1 acreditam em três pilares principais começar a pensar em melhorar a situação da subnotificação em Rondônia: organização, transparência e investimento em pesquisa.

“Uma das melhores formas de melhorar é ter um sistema de organização, principalmente fazendo o levantamento da demanda necessária para a rotina diagnóstica da Covid-19, uma outra forma é estabelecer um comitê no qual a vigilância epidemiológica juntamente com outros profissionais de saúde possam atuar firmemente para a discussão sobre a dinâmica da doença no estado correlacionando os casos suspeitos, prováveis e confirmados para a doença, favorecendo o entendimento da situação e diminuindo os impactos da subnotificação”, afirma Deusilene, pesquisadora da Fiocruz.

Para além da notificação, as pesquisadoras Xênia de Castro e Graziela Tosini, elencaram fatores sociais que devem ser considerados durante a análise de contaminação do Covid-19 no estado, elas acreditam que é preciso saber:

  • A capacidade social de compreensão do problema – a eficiência ou ineficiência de nossas ações de educação popular em saúde e de comunicação científica,
  • Os mecanismos de defesa que as pessoas porventura possam adotar diante do medo de um diagnóstico de Covid-19,
  • As diferenças econômicas, sociais e geográficas da manifestação do problema.

Informação X alarmismo

Corre pelas redes sociais que os números elevados de contágio e de mortes assustam, mas na ciência, segundo os pesquisadores, é imprescindível trabalhar com informações precisas, dados e fontes confiáveis, pois o trabalho deles tem a função de orientar políticas públicas que salvam vidas.

“Em processos pandêmicos e epidêmicos os números de casos confirmados são alarmantes, e geram na população uma situação de medo, porém isso faz parte do contexto histórico desses processos. É realmente impactante ver um crescimento exponencial a todo momento que você acessa um meio de comunicação, porém isso é essencial para entendermos como lidar em epidemias e pandemias tendo conhecimento como funciona uma coordenação de vigilância em saúde em momentos como esse e como as estratégias são essenciais para redução dos impactos que podem ser causados durante este período”, avalia Dall’Acqua.

Pesquisas na área

A comunidade científica rondoniense já se debruça para ajudar no combate a pandemia. A pesquisa “Covid-19: subnotificação e diferenças socioespaciais em Rondônia”, realizada no Ifro, tem como ideia central contribuir para o desenvolvimento de políticas de controle da Covid-19, e para o incremento qualitativo dos conhecimentos acerca dessa virose emergente.

O grupo centrará esforços no mapeamento dos fatores institucionais, políticos e culturais relacionados à subnotificação da doença.

“Trata-se de uma pesquisa desafiadora não só porque trabalhará com questões do tempo presente, mas porque realizará as investigações em uma escala também ampla, a escala do estado de Rondônia. São muitos os desafios e esperamos que nossa pesquisa contribua, ainda que de forma modesta, para fortalecer o SUS e orientar políticas públicas de aperfeiçoamento dos registros”, dizem as doutoras Xênia e Graziela.

Na Fiocruz, pesquisas também têm sido propostas, correlacionadas principalmente com a caracterização molecular, a avaliação da resposta imunológica, a produção de insumos diagnósticos e ao acompanhamento clínico e laboratorial dos pacientes confirmados com Covid-19.

Há esperança na ciência.

Via G1 Região Norte

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